Correndo para Paris

A primeira vez que participei numa prova de atletismo, foi precisamente na Meia Maratona de Lisboa. Decorria o ano de 1992, quando os meus camaradas de armas do então CMEFED me desafiaram a estar presente. Foi um monumental empeno ao fim de 1h37 de corrida. Os objectivos de então eram bem distintos daqueles que ontem me fizeram alinhar à partida.

A prova de ontem teve para mim inúmeros motivos de interesse: para já pela participação de grande parte dos elementos dos "Monstros da Maratona", que tornaram o ambiente mais familiar; depois por constituir a última prova de preparação antes do Objectivo Paris; por fim porque estava representada a armada dos melhores triatletas nacionais, os quais tentariam colaborar com Vanessa para esta obter um bom teste na distância.

A Vanessa voou com a ajuda do Bruno Pais. Bruno que uma vez mais demonstrou que as suas qualidades pessoais vão muito além do excelente atleta que é. Um exemplo! A Vanessa foi 6ª da geral e apenas uma portuguesa correu mais que ela: a Fernanda Ribeiro! Os "Monstros da Maratona" cumpriram os seus objectivos de treino. Muitos eles pulverizaram mesmo os seus personal bests.

O trajecto da Meia propicia bons resultados. Tinha por isso como estratégia andar o mais possível nos primeiros 5Kms, até Alcântara, e a partir daí rolar a 3'45" durante o resto do percurso, apontando para um tempo final na casa da 1h19'. E foi exactamente assim que fiz. Segui atrás do Sérgio Santos até final da descida para Alcântara e a partir daí corri, pendularmente, a 3'43"/Km, não alinhando em nenhum dos andamentos dos atletas próximos. A maior dificuldade surgiu a cerca e 4Kms do fim, quando se fez sentir um incomodativo vento frontal.

Concretizei assim um novo record pessoal na distância, com um desempenho ao nível do que havia feito em Cascais há umas semanas atrás. Ficou o registo de 1h17'50, a rolar a 3'41".

Agora há que descansar o corpo e... Venha Paris!

E pronto... Estamos a 3 semanas do dia D.
Esta semana resultou particularmente pesada para mim. Não só a fadiga acumulada como a carga da semana juntaram-se a uma meteorologia menos apropriada e fizeram uma mossa danada.

Ontem, no treino mais longo da semana, fui bem ao osso. Foram 2h de corrida, com duas incursões de 5Kms em Marathon Pace. Pior é que foi com o Marathon Pace do Sérgio e do Rui Campos, o deles um pouco mais rápido que o meu, o que resultou em língua de fora, bem caída, a "bombar" atrás deles.

Agora começamos a aliviar a carga para o grande dia. Há mesmo no planeamento um dia com a descrição de "DESCANSO OBRIGATÓRIO", algo que pensei nunca ver neste planeamento. Resta agora afinar o andamento para o ritmo apropriado. Para isso, uma última competição, a Meia-Maratona de Lisboa, já para a semana na Ponte 25 de Abril.

O objectivo para esta prova é rodar um nadinha abaixo do Marathon Pace, tentando um tempo final na casa da 1h20'. Sem qualquer tipo de excessos, para não vir a pagar facturas na Cidade Luz.

De resto, será tempo de tratar do equipamento de competição, arrumar a documentação relativa à prova, viagens e alojamento e tentar perder cerca de 1Kg, para abordar a competição com o peso ideal.

Deixo-vos com uma foto sacada na última "20Kms de Cascais", soprando a bom soprar no último quilómetro. A foto foi retirada do site http://www.fotodesporto.com, sítio que publica e vende as fotos de todos os atletas de pelotão, sacadas em várias provas realizadas por esse Portugal fora.

E para os mais interessados nestas coisas... não será ainda este ano que participarei de novo no Ironbike...

Fiz no passado Domingo aquele que estava identificado como sendo o mais longo treino do planeamento. Foram 60' iniciais de andamento vivo, para criar a necessária carga para o que vinha a seguir: a Corrida das Lezírias, num total de 14,350Km, disputada no coração da lezíria vilafranquense, bem junto ao Tejo.

Particularmente não me sentia nada bem. Havia estado doente, com febre e a antibiótico. Depois disso havia feito 4 sessões, uma delas com 90' e um bi-diário na véspera. Os músculos estavam arruínados!

Mas, o que tem de ser tem muita força. Havia que despachar aquiolo cumprindo as intensidades planeadas. À partida situei-me bem na cauda do grupo, à conversa com uma amigo. Dado o tiro de partida lá fui, ultrapassando tantos quanto podia ainda dentro da zona urbana de Vila Franca de Xira. À entrada da ponte os problemas de tráfego acabaram e lá decidi meter o ritmo previsto (Marathon Pace). Segui sem grandes novidades, dificuldades ou vontade de me empenhar muito mais que aquilo. Passei o David Vaz (que ia completamente roto e desmoralizado) e depois apanhei o Vitor. Em boa hora, pois ele tinha um milagroso cubo de marmelada que me ofereceu a 4Kms do fim... É que eu tinha esquecido o gel e ao fim de tanto tempo, meter qualquer coisa no bucho, já dava jeito...

Nada mais digno de registo. Apenas uma aceleração nos últimos 2Kms para tentar ajudar o Vitor a apanhar um amigo antes da meta, situação que não foi bem sucedida.

A prova em si não me despertou grande encanto. Não aprecio correr em terra, na lezíria não há público, a marcação dos quilómetros não existia e sair de Vila Franca em dia de confusão, após a prova, é caótico!

Para os registos ficam 56'43" para cumprir os 14,350Km, correspondentes a um 78º lugar. Rolei 3'56"/Km, dentro do limite Marathon Pace, para uma FC média de 176ppm. Objectivo cumprido!

Resolvi hoje falar do Bruno Pais e da Vanessa Fernandes.

À primeira vista, estes dois excelentes triatletas nacionais pouco, ou nada, terão a ver com esta história de preparação para a Maratona. Mas será que não têm mesmo?


Bruno e Vanessa são jovens atletas de enorme carisma, carisma esse bem expresso na atitude que ambos demonstram nas suas participações desportivas (e não só). Distinguem-se pela atitude positiva com que abordam as coisas da vida, pelo respeito pelos outros, pela humildade e pelo trabalho que desempenham.


Não é por isso estranho que frequentem os pódios com assiduidade. Mais do que máquinas biológicas, produtos de talento e de treino rigoroso e bem orientado, Bruno e Vanessa são pessoas de carácter, e por isso, especialmente por isso, verdadeiros campeões e exemplos de uma geração!


Pena que algumas mentalidades tacanhas e curtas, não tenham a capacidade de, por momentos, aliviarem o olhar dos seus próprios umbigos, para encontrar na postura destes atletas um exemplo para as suas vidas. Seguramente, viveríamos num país melhor, mais forte, mais rico e mais culto.


Deixo-vos com as fotos da sua última participação mundial, em Aqaba, na Jordânia, onde Vanessa, uma vez mais ganhou e Bruno fez terceiro.